Chamamos civilização do espírito aquela em que os poderes
espirituais regerão a vida social.
Para isso é necessário que a sociedade
seja formada por seres morais, criaturas formadas nos
princípios da moral-consciencial.
Essa moral corresponde ao que
Hubert considera as exigências da consciência.
Não se trata, pois, de um conceito de moral metafísica, de uma
formulação utópica de sonhadores.
Mesmo que o fosse, a definição
da utopia por Karl Mannheim nos socorreria quanto à sua validade.
Sabemos que a consciência varia de graus no tocante à sua estrutura
e à sua coerência.
E sabemos também quais os perigos concretos
de uma consciência imatura, ainda não suficientemente definida,
e portanto vazia ou incoerente, contraditória, que pode produzir
catástrofes no âmbito da sua influência ou do seu domínio.
As variações da moral entre grupos humanos e as próprias
civilizações decorrem mais da posição da consciência dominante
na sociedade do que dos fatores mesológicos e suas consequências
econômicas.
No plano religioso a consciência é um fator determinante
da realidade religiosa.
As exigências da consciência são sempre
as mesmas em todos os homens.
As variações de graus e de coerência
decorrem do processo de maturação e das condições de meio e educação.
A consciência amadurece na proporção em que as experiências
vão revelando ao espírito o seu anseio latente de transcendência.
A violência do homem civilizado tem as suas raízes profundas e
vigorosas na selva.
O homo brutalis tem as suas leis: subjugar, humilhar,
torturar, matar.
Não obstante, misturam-se às ordenações violentas estranhos
preceitos de amor e bondade.
São as lições conscienciais desenvolvidas
lutando para despertar as que, endurecidas no apego a si mesmas
asfixiam os germes do altruísmo nas garras do egoísmo.
É um espetáculo
dantesco o de uma alma vigorosa dotada de intelecto capaz de entender as
suas próprias contradições, mas empenhada em negar a sua condição humana,
rebaixando-se aos brutos ao invés de buscar a elevação moral a que
se destina.
Nos momentos de transição, como este que estamos vivendo,
a violência desencadeada exige a oposição vigorosa e sacrificial dos que já
atingiram o desenvolvimento consciencial da civilização.
O mesmo acontece
no tocante à aceitação de princípios errôneos por conv eniência.
A regra áurea do amor prevalecerá num mundo regido pela moral
consciencial.
Porque a primeira exigência da consciência humana é a
do amor ao próximo, desprezada e amesquinhada nas sociedades mercenárias
a ponto de levar-nos ao seu contrário, o ódio, essa cegueira, que
gera e sustenta a violência no mundo.
Contra essa realidade exasperante
de nada valem os sermões, as pregações, as ladainhas e outras preces labiais.
O mesmo indivíduo que se ajoelha diante das imagens, nos templos
suntuosos, volta ao seu posto de mando para ordenar torturas canibalescas.
Está certo que Deus o aprova, pois age em defesa da civilização cristã,
aviltando aqueles pelos quais o Cristo morreu, segundo lembrou Stanley
Jones.
Exemplo, a “Santa Inquisição”.
No começo do século, Léon Tolstoi
já advertia que estamos numa era de nova antropofagia, então requintada
pelas técnicas modernas.
Ainda não surgiu, infelizmente, o gênio da Psicologia
que deverá, mais cedo ou mais tarde, realizar a análise assombrosa
dos complexos sem nome de misticismo, sadismo e barbárie que Freud
apenas aflorou em suas pesquisas da libido.
A vantagem do Espiritismo, entre todas as doutrinas filosóficas do
nosso tempo, é a de colocar os problemas do homem, mesmo no campo
religioso, em termos de razão e naturalidade, eliminando os resíduos do
sobrenatural que pesaram sobre o passado, sem cair no ceticismo e no
agnosticismo.
Essa posição sui generis do Espiritismo permite-lhe preparar
o homem atual para uma existência normal e digna no futuro, desde
que os espíritas, tão sobrecarregados de heranças religiosas atávicas e deformadas,
não venham a cair nas mesmas e nefastas ilusões da investidura
divina e da institucionalização hierárquica das religiões tradicionais.
René Hubert interpreta a educação, no seu Tratado Geral de Pedagogia,
como um processo que tem por finalidade estabelecer na Terra a
solidariedade de consciências, da qual resultará uma estrutura política e
social que ele denomina de República dos Espíritos.
As energia espirituais
e a orientação racional do ensino moral do Cristo, enterrado no complexo
de mitos dos Evangelhos, são na verdade, os elementos que podem e realmente
já estão balizando o futuro da humanidade terrena.
Como observou
Gandhi em suas memórias, os meios que nos podem levar à verdade
e à dignidade só podem ser verdadeiros e dignos.
Esses meios não precisam
da justificação dos fins, pois justificam-se por si mesmos .
Muita paz a todos